Europa
Itália
Da chuva para a Itália e da Itália para a chuva
A entrada na Itália foi triunfal! Primeiro, o básico, parou de chover! Mesmo sem ter ainda o brilho do sol sobre nossas cabeças, o simples fato de estarmos secos já melhorou um bocado. Segundo, as primeiras visões do Monte Bianco e das cidades do Valle d’Aosta valem a viagem.
O céu ainda estava um pouco carregado, e alguns pingos de chuva fizeram eu e a Du nos entreolharmos. Mas, em pouco tempo de descida, os primeiros espaços azuis foram surgindo no horizonte, trazendo o recado de que a chuva forte estava ficando para trás. Seguimos lentamente pelo zig-zag da estrada, observando os inúmeros castelos às suas margens. Vimos, então, uma placa de camping... “Vamos nessa!”. Mais alguns minutos e chegamos à minúscula cidade – mais um vilarejo – chamada Avise. Entramos no camping e fomos muito bem recebidos por alguns italianos que, na verdade, estavam acampados lá. Em pouco tempo ficamos sabendo que a dona do camping era brasileira.
Vera, uma brasileira casada há mais vinte anos com um italiano, e sua filha, Elaine, nos receberam com muita simpatia. Éramos os primeiros brasileiros por lá. Batemos papo por pouco tempo, pois já estava escuro – tínhamos usado o cair da tarde para uma volta pela pequena e antiga Avise – e precisávamos preparar a barraca e o jantar. Como estávamos um pouco enferrujados, esse processo certamente demoraria mais que o normal.
Contrariando as expectativas, pouco mais de duas horas depois estávamos na cama. Barraca “no esquema”, jantar feito e devorado, e banho tomado – prontos para dormir e esperar o amanhã. Aí, o vento apertou... Digo “apertou” porque realmente vinha ventando bastante, o que nos fez inclusive ir cozinhar perto da administração do camping, mas não como começou a ventar após o anoitecer. Ventou, literalmente, a noite inteira. E muito forte. De vez em quando vinha uma pausa, para, em seguida, uma rajada forte e uivante sacudir completamente a barraca! A Du quase pulava de susto. Foi uma noite no melhor estilo “Bruxa de Blair”! Com o vento, aumentou bem o frio. Passamos a noite inteira encolhidos debaixo do edredom. Coloquei o casaco e o gorro para dormir. Da Du, não se viam nem os olhos. Foram horas assim, até de manhã.
Como a barraca era bem escura, conseguimos dormir até um pouco mais tarde e acordamos sem vento. Pela manhã, a Du saiu para ver o dia... “Meu Deus! Não tem uma nuvem no céu!”, ela gritou! Corri para ver e constatar: o céu realmente brilhava em um impressionante azul! “Que maravilha!”. O vento à noite incomodou um bocado, mas fez o excelente trabalho de varrer todas as nuvens acima de nós. Que visão estupenda após vários dias na chuva!
Começamos a arrumar as coisas com o ânimo muito renovado. A estratégia de desviar para a Itália tinha dado certo já no primeiro dia. Começamos a conversar com um simpático casal de holandeses que estava acampado bem ao nosso lado. Em poucos minutos, eles nos convenceram a voltar pelo Valle D’Aosta e ir novamente aos pés do Monte Bianco para subir no teleférico. Em um dia daqueles, o cenário prometia. Após um animado café-da-manhã na casa da Vera e da Elaine, a convite delas, voltamos para o Pezão e arrumamos a casa para partir. Ainda levei na bagagem uma cafeteira nova, presente da Vera, pois confessei a ela que não agüentava mais café solúvel e que eu tinha conseguido realizar a incrível proeza de derreter a minha cafeteira “estilo italiana”, presente da minha mãe, ainda no Brasil.
A volta pelo Valle D’Aosta foi ainda mais bonita. Após algumas paradas para fotos, estávamos na bilheteria do teleférico. O problema foi que o bom tempo atraiu muita gente para a subida, então recebemos uma senha e a notícia de que nosso teleférico sairia somente três horas e meia mais tarde. Sem problemas...
Pegamos nossa senha e começamos a dar uma volta por uma pequena estrada ao lado da montanha, em um lugar chamado Val Ferret. O dia estava tão lindo, e as fotos estavam ficando tão boas, que as três horas e meia foram poucas, e acabamos não tendo tempo para almoçar. Mandamos um queijo quente “made in Pezão” para dentro e fomos ao teleférico.
Na hora marcada, iniciamos a subida. Fiquei meio ressabiado no início, pois algumas nuvens haviam aparecido e eu estava com medo que o tempo virasse. Mas o que poderia ser problema, na verdade, foi um tempero especial – as nuvens deram um espetáculo à parte, cedendo ao céu uma textura inigualável. Após três teleféricos, em quase quarenta minutos de viagem, chegamos à fronteira entre França e Itália no meio dos Alpes, a mais de três mil metros de altitude. Do lado sul, Monte Bianco. Ao norte, Mont Blanc. Sobre a paisagem, não há como descrevê-la! As fotos dizem tudo! Somente um cenário daquele faria com que nossa fotógrafa esquecesse, ou pelo menos tentasse esquecer, um frio próximo de zero grau. Montanhas, neve, céu, nuvens... Um espetáculo da Natureza!
Ficamos na geladeira branca o máximo que conseguimos. Já eram quase cinco da tarde e, com a descida do sol, o frio começou a ficar insuportável. O pior mesmo foi observar, à distância, escaladores do gelo caminhando sobre a neve, sozinhos, em direção ao vasto branco. Impressionante! Neguinho é feito de outro material!
Descemos gelados e contentes. O primeiro dia na Itália parecia ter valido por toda uma semana. Era só o começo daquele país... E que começo!
Como acabamos ficando mais tempo do que o programado no Monte Bianco, voltamos para o “nosso” camping em Avise. Tínhamos certeza que Vera e companhia ficariam felizes em nos rever. A parte triste do dia ficou por conta da notícia que recebemos, assim que chegamos, de que o casal de holandeses tinha acabado de sofrer um acidente de scooter. Como é muito comum, o pessoal de trailer carrega scooters, motos ou mesmo bicicletas na parte de trás do veículo. Mas tem seus riscos... Pelo menos não fora nada grave, e eles chegaram de volta ao camping poucas horas depois.
Preparamo-nos melhor para o frio nessa noite e, como fomos finalmente esquecidos pela “Bruxa de Blair” local, dormimos sossegados.
O dia seguinte reservava outro reencontro: o mar! Depois de muito tempo rodando por continentes – os mares gelados da Escócia e Noruega, decididamente!, não valem – estávamos loucos por um mergulho em um dia bem quente. E nosso destino era o litoral italiano do Mediterrâneo chamado Cinque Terre.
Viajamos por estradas calmas por algumas horas até chegar à região de Cinque Terre. Ainda não foi dessa vez que reencontraríamos adequadamente o mar... A chuva deu uma insistida nesse dia (que, finalmente, seria o último) e desistimos do litoral. Além de tudo, essa parte da Itália parecia simplesmente lotada. Após dormimos em um camping bem meia-boca, perto da cidade de Lerice, seguimos novamente para o interior.
Nosso destino final desse dia era Florença, na Toscana. No caminho de Florença, avançando na direção sul, passamos pela cidade de Pisa, lar da famosa torre inclinada. A Torre de Pisa é fascinante. Pode-se considerar uma imensa sorte o fato de construir-se uma torre, ela inclinar sozinha, e não cair. A quantidade imensa de turistas ao redor dela é uma prova disso. Jamais estariam lá se a torre fosse perfeitamente aprumada.
Nesse mesmo dia, chegamos a Florença. Ficamos em um camping muito bem estruturado e localizado. Esse camping parecia um clube, com bar, restaurante, mercado e caixa vinte e quatro horas. Além de uma parte básica muito bem organizada, com bons banheiros e lavanderia. Sua localização era sensacional: ficava ao lado do mirante mais famoso de Florença, na Praça Michelangelo. Poucos passos abaixo da praça e já estávamos na Ponte Vechio e, depois, no Centro.
Mas, no dia da chegada, ficamos pelo Pezão mesmo, pois estávamos exaustos. Fizemos o jantar e dormimos. Guardamos as energias para o dia seguinte.
De manhã resolvermos umas pendengas básicas, como compras e lavanderia, e partimos para a rua. Saímos para a Praça Michelangelo e, depois, para o Centro. Comemos, depois de um almoço improvisado, um sorvete tão incrível que fez com que os nossos padrões conceituais de bom ou ruim para sorvetes simplesmente dessem cambalhota. Incomparável!
Depois de passar pela interessante Ponte Vechio, fomos para as praças centrais. Esse centro de Florença é divino. Uma espécie de museu ao ar livre. Caminhar por lá, com uma agradável temperatura, perto dos vinte e cinco graus, fez com que desejássemos que o tempo parasse. Caricaturistas, esculturas, arquitetura, tudo muito interessante. Isso sem falar na imponência da Catedral de Florença.
Guardamos o dia seguinte para ficar pelo camping e arrumar melhor as coisas no Pezão. Com o ritmo de acampamento, estávamos começando a conseguir otimizar nossos recursos e espaços.
Saímos de Florença para dar umas voltas na região de Chianti. O sol brilhou forte e o passeio, repleto de vinícolas, foi muito agradável. O brilho ficou por conta das parreiras carregadas de uvas nessa estação e pelos trinta e cinco graus de temperatura.
Terminamos na cidade de Monteriggioni, a posição mais ao sul da Itália que visitamos. Demos uma parada no impressionante castelo da cidade, bem no final da tarde, em um momento que a luz deu um show e as fotos ficaram excelentes. Dormimos em um camping por lá mesmo.
Partimos então para o norte, em direção a Milão. Já estava tudo combinado para a WE receber mais uma visita! Nossa amiga Ana Paula, esposa de um grande amigo meu, estava em um curso em Londres e desviou o caminho de volta por Milão para nos encontrarmos. Que espetáculo! Estávamos contando os minutos para matarmos as saudades dela.
Paramos para dormir em uma pequena cidade, Piacenza, bem próximos a Milão. A estratégia era chegar o mais perto possível, sem entrar na zona urbana, e chegar bem cedo no dia seguinte. Sabíamos que a Ana ia chegar com toda a pilha e queríamos recarregar as nossas dos dias corridos pra poder acompanhá-la. Antes de paramos para dormir, fomos em Maranello, terra dos carros Ferrari, e visitamos a Galleria Ferrari. Um prato cheio pra quem gosta de automobilismo.
A única ocorrência engraçada aconteceu no primeiro hotel que encontramos. Precisávamos muito de internet, pois íamos usar a noite para agendar online o serviço de emissão dos nossos novos passaportes no consulado de Milão, então combinamos de testar a internet do hotel antes de fazermos o check-in.
Esse primeiro hotel era uma espécie de hotel / motel. Embiquei o Pezão na famosa janelinha de correr que tem nos motéis. O nosso papo rolou em um inglês bem razoável, aqui traduzido:
- Ôpa... Você tem quarto?
- Sim. São noventa Euros...
Já achei caro para uma cidade pequena.
- Sei... E vocês têm internet?
- Sim!
Nessa, o cara respondeu meio grosseirão. “Que sujeito mal humorado”, pensei. Mas ainda dava pra aturar.
- Posso dar uma olhada no quarto?
Sempre que podemos, damos uma olhada no quarto antes de entrar. Principalmente para sentir se tem cheiro de mofo. Se tiver, só ficamos em último caso.
- Isso é impossível!
Engrossou de vez! “E agora, como faço pra testar a internet?! Se eu pedir para conectar o micro o cara vai pular no meu pescoço... Agora quem está sem paciência sou eu!”, pensei. Mas, como era tarde, lembrei da Du e perguntei se tinha água quente... Pra quê? O cara explodiu!
- Meu amigo! Isso aqui é um hotel três estrelas! Você sabe o que é um hotel três estrelas?!
Nessa hora, eu já tinha desistido de ficar lá. Mesmo que tivéssemos tirado tudo do carro, depois desse show de mal humor, eu teria levantado acampamento e ido embora. Ainda do lado de fora, com o Pezão ligado... É ruim! Bora daqui! Antes, uma tripudiada de leve...
- Não. Não sei o que é um hotel três estrelas. Pode me explicar?
O figura desandou!
- Para você ser três estrelas, meu amigo, tem que ter algumas coisas! Água quente é uma delas! Internet, não! Mas algumas coisas são obrigatórias! Esse é um hotel três estrelas! Se não gostou pode ir procurar outro lugar.
Ele ficou me olhando esperando resposta. Simplesmente dei meia volta sem falar nada e entrei no Pezão. Antes, ouvi o som dele batendo com força a famosa janelinha de motel. A Du me olhou assustada, porque só ouviu a batida da janela.
- O que houve?
Nessa eu já tinha relaxado e estava rindo.
- Acho que não vai dar pra ficar aqui não...
Mas o destino sempre tem nos dado uma força. Cinco minutos à frente, encontramos um pequeno hotel com um coroa que tirava nota zero no inglês, mas dez na simpatia. Praticamente na base da mímica testamos a internet e visitamos o quarto. Ficamos lá por quase a metade do preço e ainda comemos uma excelente pizza, feita pelo próprio mister simpatia. Comemos entre documentos, certidões e agendamentos pela internet. “Vamos atrás do novo passaporte!”.
Acordamos cedo e fomos para Milão. Ficamos em um hotel bem próximo da estação de trem. Lá, ficamos aguardando a Ana. Passamos praticamente toda tarde na horizontal. Pouco antes das dez da noite, toca o nosso telefone...
Era a Ana! Chegou pilhadíssima do aeroporto e entrou voando no nosso quarto! Abraçamo-nos e começou o falatório. Ela contando a viagem a Londres e a gente falando da nossa. Muito bom! Ficamos por algum tempo no quarto e depois nos despedimos, para começar os passeios em Milão no dia seguinte.
Saímos ao final da manhã em direção ao metrô que nos levaria à praça da catedral Duomo. A saída do metrô fica exatamente na praça em frente à catedral, o que faz com que o impressionante prédio seja a primeira visão da sua da superfície. Demos uma rodada pela praça pra tirar fotos. Um dos programas locais, ficar igual à estátua do Cristo Redentor e servir de poleiro para dezenas de pombos, nós passamos.
Começamos então a caminhar pelas ruas e galerias de Milão observando as inúmeras lojas de grife locais. Decididamente não é o meu passatempo favorito, mas, como a Ana está no ramo da moda, observar as vitrines com um olhar mais técnico deu um tempero especial ao programa, que ficou bem divertido.
Depois de algumas rodadas para ver as “tendências” e um almoço bem rápido, fomos para um esperado bar. Quando estávamos combinando de nos encontrar, não sabíamos bem onde, nem como, nem quando, mas tínhamos certeza de que, onde fosse, sentaríamos assim que pudéssemos para tomar umas boas cervejas!
E assim aconteceu em Milão. Sentamos em um bar às quatro de tarde e ficamos até quase dez da noite. Mandamos descer repetidos baldes, porque o pessoal não bebe em copos com menos de meio litro, e esquecemos da vida em uma conversa muito animada. Às vezes, nos exaltávamos tanto no papo que a garçonete, uma Romena boa gente, achava que era briga! A gente respondeu “fique tranqüila que é papo de família”.
Ficamos tão animados que esquecemos completamente de comer alguma coisa. Quem pagou o pato foi a Du... Já no final ela começou a reclamar de dor de cabeça e a beber água. Entramos no metrô, não sei como, e conseguimos chegar ao hotel. O combinado era comermos uma pizza em frente ao hotel, mas a Du já estava pra lá de Marrakesh e decidimos levar a pizza pro quarto.
Subimos todos juntos e eu desci para pegar as pizzas. Voltei pro quarto com a inusitada cena da Ana segurando a testa da Du que, com a cabeça quase enfiada na privada, tentava vomitar. Como ela não conseguia vomitar, apesar do enjoo, a Ana a incentivava a colocar o dedo na goela! A Du tentava, meio sem sucesso. Aí a Ana mandou “se quiser eu coloco o dedo! Se quiser eu uso dois!”. Não conseguíamos conter os risos! Depois que a Ana falou de novo que, se a Du quisesse, ela colocaria os dois dedos na goela dela eu gritei: “Du! A Ana tá tarada na sua goela!”. Foi realmente engraçado.
Terminamos a noite tentando comer uma pizza que eu, por engano, pedi sem molho de tomate (onde já se viu?! Pizza sem molho de tomate?!), e com a Du gemendo na cama. Foi realmente um porre e tanto. A dor de cabeça da Du era tão forte, e ela não podia tomar dipirona, pois é alérgica, que ela chegou a gemer a palavra “hospital” de madrugada. Logo depois mandou um “acho que nunca mais volto a beber cerveja...”. Mas, como não existe nada como um dia após o outro, ela acordou melhor.
No dia seguinte tomamos café mais tarde e, munidos de diversas garrafas d’água, fomos ao lago de Como. Trata-se de um lago ao norte de Milão, que é muito conhecido. Entramos na estação de trens, bem próxima, e começamos a nos informar sobre os horários.
Depois de algumas surras nas máquinas de vender bilhetes, achamos uma passagem de um trem que sairia em menos de dez minutos! A máquina ainda perguntou: “Esse trem que você está escolhendo sai em menos de dez minutos! Tem certeza que quer a passagem?”. Nós três nos entreolhamos... “Preparem-se pra correr!”. Comprei os bilhetes e começamos a correr! Subimos em direção às estações numeradas... “Qual a nossa estação?”. “Não sei! Não diz no bilhete”! “Ferrou! Temos menos de dois minutos!”
Olhamos para o lado e vimos, finalmente!, um balcão de informações! Corremos para lá e perguntamos qual era a nossa estação. A atendente, com toda calma, para o nosso desespero, olhou os bilhetes e pegou um mapa da cidade de Milão! “Meu Deus! Tá louca!”. Tentei interrompê-la por várias vezes, mas ela insistia em mostrar no mapa uma estação de metro longe de onde estávamos! Gritei: “não adianta me mostrar isso! Não temos tempo para pegar o metrô! O trem sai em dez segundos!”. Quase a sacudi pelo pescoço. Ela me olhou com desdém e perguntou se eu falava espanhol (imagine como devia estar o meu inglês nessa correria). Aí, concluiu: “Tiene tren de mea en mea ora… Usted puedes correr cualquier un deles.”. “Ah… Que bueno…”. Relaxei… “Donde es el metro mismo?…”.
Seguimos, mais calmos, para o metrô. Chegamos ao local correto e havia um trem esperando na estação. Finalmente! Entramos no trem e ficamos implorando pela saída dele, pois devia estar quarenta graus lá dentro. A viagem foi quente e animada. Ficamos sentados no chão no início do vagão para pegar mais brisa. Isso até que uma italiana, que parecia importada da Rússia, cortou nosso barato. Pouco mais de uma hora depois da saída, estávamos em Como.
A cidade é muito bonita, mas o lago deixou a desejar. Nossa expectativa era encontrar algo parecido com Annecy, na França, mas fica longe disso. Quem sabe se sair de carro ou barco rodeando o lago fique melhor... Não sabemos. O fato é que aproveitamos para dar um belo passeio, caminhando pela cidade, e almoçamos uma boa massa. Como foi bom podermos fazer isso na companhia da Ana!
Voltamos para Milão no final do dia.
Tínhamos mais um dia juntos e aproveitamos para dar mais umas voltas pela cidade. Pela manhã, fomos ao consulado brasileiro e tiramos o nosso passaporte novo. Alto nível! Passaporte pronto na hora!
Almoçamos uns paninis incríveis e caminhamos pelas ruas. A Du resolveu acompanhar a Ana e comprar umas roupas. Tentei ir junto por algum tempo, mas pipoquei bonito e fui para o hotel. Elas chegaram um pouco mais tarde e saímos para a última noite juntos. Aliás, um ponto forte da Itália foi a comida! Bastava fechar os olhos e pedir uma massa! Não tinha erro, principalmente as pizzas (as com molho de tomate!).
O dia seguinte era de despedida. Tomamos café-da-manhã com a Ana sem pressa e começamos a arrumar o Pezão. Saímos na hora do almoço, não sem antes dar abraços e beijos demorados na nossa amiga, que deu um jeito de mudar a rota da sua viagem pra nos visitar. Ana, a sua visita foi muito especial! Valeu mesmo!
Saímos com o Pezão novamente em direção às montanhas. Mas, dessa vez, o destino era mais ao leste, na Cortina d’Ampezzo. O tempo estava fantástico, e nosso ânimo bem alto.
Após algumas horas de estrada, chegamos a mil metros de altitude. O cenário era muito bonito, e valeram diversas fotos. Depois de subir mais duzentos metros, achamos um camping na cidade de Canazei.
Paramos, armamos todo o esquema da barraca e começamos preparar um jantar. A temperatura caía vertiginosamente. Pouco antes das nove da noite, o termômetro já marcava doze graus. Nessa hora, a Du perde as estribeiras. Jantamos quase correndo e fomos para a barraca. Foi um tal de cobre daqui, puxa dali, e o frio só aumentando. Dei uma descida, para pegar alguma coisa no Pezão, e olhei o termômetro: dez graus. Ferrou!
Demos mais uma arrumada nas cobertas e dormimos. No meio da madrugada, destrambelhou de vez! Um frio de lascar, temperado por um pouco de vento, fez com que a noite ficasse comprida, de tão desagradável. Eu me tremia todo. Coloquei o gorro e as luvas, sendo que o gorro eu enfiei até o nariz, como se fosse uma fantasia de abelha sem o buraco dos olhos. Não dava para mudar a posição de dormir, porque, quando nos virávamos, a parte nova do travesseiro e do colchão estava igual gelo! Era tão frio que parecia que estava molhado! Colocamos até casaco para dormir. A Du não tinha som nem imagem – emitia só uns gemidos de vez em quando. O que era bom, pois eu ficava tranquilo em saber que ela estava respirando [risos].
Batemos queixo até o amanhecer. O dia estava estupendo, sem nenhuma nuvem, mas simplesmente não dava pra sair de debaixo das cobertas. Ficamos até depois das nove horas encolhidos na barraca. Tomei coragem e resolvi sair. Coloquei mais casacos e desci. Olhei no termômetro e gritei pra Du perguntando se ela imaginava a temperatura... Em um som abafado pelas cobertas ela gritou: “treze graus!” Eu respondi: “Quem dera! Está fazendo menos de três graus agora!”. Isso quase dez da manhã!
Pegamos todas as traquitanas do café-da-manhã e fomos para o sol. “Se está fazendo esse frio agora, imagina a madrugada que passamos!”. O sol foi forte aliado e começou a esquentar nossas mãos. “Que aperto!”.
Começamos a subir a serra e todo o custo do frio foi recompensado. As montanhas italianas novamente deram um espetáculo. A visão da estrada sinuosa e das montanhas escarpadas era fascinante. Pra complementar, era domingo, e a estrada estava repleta de ciclistas e motociclistas, que fizeram um show à parte. Belo domingo de sol!
Seguimos passeando pelo vai e vem hipnotizante e aproveitando o calor do sol. Nesse mesmo dia entramos na Áustria. Pelo avançar da tarde, combinamos de parar logo no início do país para dormirmos. Não nos deixamos abater pela sibérica noite anterior e seguimos procurando um camping. A impressão que eu tinha era que a Du iria colocar todas as roupas que ela tinha disponível e virar uma espécie de bola de novelo gigante. Além de tudo, começou a chover! Impressionante! Saímos da França com chuva forte e o tempo melhorou na Itália. Depois, foi só colocar os pés, ou pneus, na Áustria, para os pingos começarem a cair...
A Itália foi uma atração à parte na Europa até agora. Os belos cenários e o bom tempo nos seguiram quase todo o tempo. E ainda recebemos uma querida visita para alegrar ainda mais a nossa estadia nesse país.
Queríamos agora atravessar rapidamente a Áustria e seguir até a Hungria onde, para alegria geral, iríamos receber a visita do Douglas, irmão da Du, da Daia e do pequeno Nicolas. Mais uma parte da nossa querida família iria nos encontrar em Budapeste e queríamos chegar lá correndo.
Estamos a caminho do Leste Europeu!