América Central

Guatemala

A Incrível Guatemala

A Guatemala atendeu inteiramente às nossas expectativas. A guinada no manche em cima da hora valeu a pena, e os nossos dias foram muito animados e recheados com diferentes tipos de lugares e atividades. As extremidades opostas entre quentes lavas, claras piscinas e sombrias cavernas deram o tom dos dias que passamos conhecendo a terra dos guatemaltecos. 

Chegamos rapidamente em Guatemala City. O caos de sempre! Obras, trânsito, tumulto e poeira. A estratégia que temos adotado de evitar as capitais tem total fundamento. Simplesmente não vale a pena. Obviamente é uma regra que contém as exceções necessárias para sua confirmação, mas, na dúvida, vamos seguir optando pelas cidades menores. Porém, para atingir nosso objetivo, que era Antigua Gatemala, tínhamos que passar por Guatemala City. Antigua foi capital da nação no passado, perdendo esse status no século XVIII e tornando-se então ponto turístico devido ao excelente clima e à preservada arquitetura. Realmente é uma cidade fantástica! Pequenas ruas de pedra inteiramente preenchidas por bares, restaurantes, pousadas e lojas de artesanato convidam para um passeio bem devagar. Os bares e restaurantes, decorados e iluminados de forma impecável, são atração à parte, valendo algumas sessões de fotos da Du. 

No dia seguinte saímos pra conhecer um pouco a cidade, sempre a pé, pra relaxar da direção do Pezão. Passamos em uma agência de turismo e agendamos uma visita ao vulcão Pacaya. Ele fica a cerca de uma hora e meia de Antigua e é o vulcão em maior atividade na Guatemala. Pelo que nos informamos, sob a supervisão de guias poderíamos fazer uma aproximação segura das lavas. Vimos algumas fotos e ficamos animados! Parecia realmente um excelente programa. Passei à noite no estacionamento pra pegar umas lanternas e casacos impermeáveis. O Pezão deve ter ficado uma fera por irmos sem ele, mas a segurança da equipe vem em primeiro lugar. A subida seria somente na tarde seguinte, então ainda tivemos uma manhã inteira para tomar um vagaroso café-da-manhã e aproveitar a boa internet da pousada.  

Partimos pra subida! Na hora marcada, a van passou para nos apanhar. Havia somente um turista a bordo, um francês boa gente chamado Joel. Pensei: “que beleza, vamos com conforto!”. Porém, duas curvas depois, fomos transbordados para outra van. Essa sim, lotada.  E lá fomos nós... Noventa minutos depois de um passeio quente e sinuoso, chegamos ao parque do vulcão. Despencou uma chuva tremenda! Ficamos dentro de uma micro-loja aguardando a chuva melhorar, o que aconteceu em poucos minutos. Compramos uns bastões feitos pela molecada local e iniciamos a subida que, ao que parecia, duraria mais noventa minutos. Mal o juiz apitou o início do jogo, voltou a chover horrores e a alta altitude fez a Du perceber que a subida seria pesada demais, então decidimos alugar um transporte. O comércio de aluguel de eqüinos também era manipulado pela gurizada local e não foi difícil arrumar um. Ao contrário, com tantos ofertantes, fizemos um leilão inverso e conseguimos um pela metade do preço inicial. A Du logo se pôs em cima do seu novo possante. Perguntamos o nome e, se não me engano, chamava-se “Trovão”! O nosso guia então passou por mim e falou: “este caballo no va conseguir subir...”. Gritei: “como assim?!”. De fato, o processo tinha sido muito rápido, e realmente nem olhamos para o animal. Parei para analisar o distinto: tinha péssima aparência. Pernas finas, pêlos escassos e olhar cansado. “Nos engabelaram! Pegamos o mais pangaré de todos!”. Bom... Vamos ver no que dá. Continuamos a subir em meio à chuva e ao piso escorregadio. Trovão até que ia bem... Dava umas bufadas a mais, mas avançava no ritmo dos demais. Porém, cinco minutos depois, o peso da nossa esbelta fotógrafa, somado ao da mochila e do tripé, mostrou-se demais pro nosso alazão. As bufadas aumentaram muito (vai ver que daí vem o nome!) e comecei a perceber que Trovão não ia subir de maneira nenhuma. O moleque começou a sentar a vareta no lombo dele, e o cenário começou a ficar pessimista... Mais cinco minutos e começou a rebeldia! Trovão empacou na trilha, criando um embotellamiento de caballos, e determinou que dali não passaria! Deu uma marcha à ré, já na transversal da trilha, e a Du começou a gritar que queria descer! O moleque dando varetadas no Trovão e a Du gritando: “!No! ¡No! ¡Yo quiero bajar!”. Confesso que eu não sabia se ria ou se ajudava. Nesse momento de grande reflexão, passou por mim outro moleque, mais abusado, que tinha perdido o leilão que eu fiz. Ele carregava um quase puro-sangue e disse: “Mira? Mira? Mayor preço, mejor caballo!”. Filho da mãe!... Infelizmente, ele tinha razão. Nessa hora, Trovão cansou de vez de tomar pancada e deu meia volta em direção à descida! A Du soltou um grito, já em outra escala, e aí eu corri pra segurar o bicho. Realmente, o pangaré galopando morro abaixo ia dar zebra. Ajudei a Du a descer e arrumamos outro caballito. Agora sim, íamos finalmente subir! 

Quinze minutos mais tarde eu já tinha perdido a Du de vista. A subida estava realmente muito molhada e íngreme, então a escalada não rendia muito. Fui andando como último da tropa, junto com nosso amigo Joel. Quase duas horas depois da partida, reencontrei a Du no topo da caminhada. A trilha de cavalo tinha sido emocionante. De lá, tivemos as primeiras visões da lava. Estávamos a cerca de quinhentos metros do cume do vulcão, e a lava descia como um lento rio, deixando à mostra diversas veias de rocha vermelha e brilhante. Incrível! A chuva deu uma oportuna trégua e começamos a pequena descida em direção à rubra montanha... O visual era fantástico e o solo parecia terreno lunar. A luz esbranquiçada das nuvens tornava ingrata a tarefa de fotografar, então a Du teve que tirar lava de pedra pra conseguir representar nas fotos aquilo que estávamos vendo. Chegamos tão perto quanto nos era permitido pelo calor! Nossas roupas, que estavam ensopadas, tornaram-se secas em poucos minutos. Alguns presepeiros aproveitaram para assar marshmallows. Tiramos boas fotos e descemos do Pacaya quase à noite, já sem chuva nenhuma. Em menos de uma hora estávamos dentro da van no caminho de volta. [Uma semana após nossa visita, o Pacaya entrou em erupção, lançando pedras, areia e cinzas nos arredores. A cidade de Guatemala City decretou estado de calamidade pública em função das cinzas. Não tivemos notícias de outras cidades.] 

Ficamos mais um dia em Antigua e saímos em direção à próxima atração: o lago Atitlan. Ficava razoavelmente perto, então não nos preocupamos muito com o horário. 

Em meio a um almoço tranquilo, observamos a chegada de outro carro. Como sempre, os ocupantes pararam por alguns segundos em frente ao Pezão pra tentar concatenar o que aquela nave espacial estava fazendo ali. Foi aí que adentrou no restaurante um guatemalteco com sorriso e bom humor dignos de um brasileiro. Em meio segundo, ele estava em nossa mesa. Mais meio, e também sentou sua acompanhante. Pouco depois, ordenou seu pedido e tivemos então, os quatro, um almoço extremamente agradável e divertido. Nossa programação era tentar gastar, como sempre, uns quarenta minutos almoçando para, assim, conseguir chegar cedo ao destino. Mas, dessa vez, a conversa estava tão boa e animada que a nossa parada durou quase duas horas! Valeu Josué

Toda a estadia em Panajachel, à beira do Atitlan, foi muito agradável. Rodamos sem pressa pelos diversos povoados ao redor do lago, mas, devido ao mau tempo, não entramos na água nem conseguimos visualizar os três vulcões que repousam ao seu redor. A passagem pelos simplíssimos povoados teve um sabor especial para a Du, que tem registrado com muito talento os habitantes por onde temos passado. Por mais que os cenários sejam deslumbrantes, as fotografias que focam o lado humano são insuperáveis. Trabalhadores, crianças, crianças trabalhadoras; Estudantes, aposentados; tudo muito rico em detalhes.  

Os arredores do lago estavam bem vazios, bem mais do que esperávamos. Ficamos sabendo mais tarde que uma recente contaminação provocada por laboratórios clandestinos afastara temporariamente o turismo. Parece que a contaminação estava superada, mas ficamos felizes por não termos caído na água. 

No dia seguinte, saímos bem cedo para o a cidade de Lanquin, um dos nossos destinos mais esperados. Lá visitaríamos umas impressionantes piscinas naturais, chamadas Semuc Champey, e uma caverna. Tínhamos visto umas fotos impressionantes de Champey, e estávamos demorando a crer que passaríamos por tal lugar. 

O caminho foi tortuoso. Muitas curvas em uma estrada bem ruim na maior parte do tempo. Paramos para almoçar em uma cidade muito simples. No restaurante, fomos recebidos por umas fitas adesivas penduradas no teto, como se fossem filmes fotográficos desenrolados, utilizadas para agarras moscas. Devia haver mais de quinhentas moscas, sem brinadeira!, em cada fita! A comida era caseira e boa, e a Du aproveitou para registrar o local. Pediu inclusive para tirar fotos da cozinheira fazendo tortilhas. Foi engraçadíssimo! Todas ficaram estáticas enquanto a Du estava na cozinha. Quando saiu a primeira foto, uma delas gritou ao ver a cena congelada no visor da câmera. Assim que saímos, começou uma gritaria frenética geral da mulherada. Parecia que o cantor Roberto Carlos (aliás, figura incrivelmente freqüente nas rádios e nos palcos da América Central) havia estado lá em pessoa. 

Em determinado momento da tarde, a estrada acabou. Saltamos para olhar o que acontecia e deparamo-nos com uma espécie de pedreira. Pedras soltas e terra até aonde a vista alcançava. Olhamos para baixo e vimos inúmeros caminhões passando lentamente por uma pequena estrada, bem no meio dessa “pedreira”. Olhamos para trás e vimos um velho pórtico, com uma singela placa que indicava justamente a direção que queríamos. Era por ali! Na hora de entrarmos, saiu, pelo pórtico, um caminhão imenso. Começavam os sinais de que aquilo não era normal. A descida era incrivelmente inclinada e estreita, suficiente somente para um carro. Torcendo para não vir outro caminhão no sentido oposto, chegamos ao local que víramos de cima. Paramos e saímos do carro. A Du começou a tirar fotos e eu fui tentar me informar com o motorista do caminhão da frente. Após alguns segundos entendi o que acontecera: estávamos no meio de um desabamento! Olhei para cima e vi quase uma assombração: um pedaço imenso da montanha tinha vindo abaixo! Era tão grande que não se fazia perceber na primeira olhada. Tinha mais de um quilômetro de largura! A avalanche provocada pelo desabamento deixou um rastro de destruição de pelo menos cinco quilômetros abaixo. Só se viam pedras e muita, muita terra. Na verdade, estávamos em uma fazenda privada cuja pequena estrada estava servindo de desvio desde o desabamento. Ficamos extremamente ansiosos por cruzar logo o lamaçal que causava o engarrafamento e voltar à estrada principal. A sensação de ficar no meio daquela tsunami de areia era péssima! Tudo certo; passamos, subimos e retomamos o rumo.  

Com o atraso provocado pelo desabamento, e após mais de dez horas desde a saída, chegamos em Lanquin . Hospedamo-nos bem próximo das grutas que levam o mesmo nome da cidade e desabamos na cama. No dia seguinte iríamos a Champey e à gruta! O tempo estava chuvoso, então as rezas por um sol, mesmo que de leve, foram grandes. 

O dia amanheceu com tempo melhor, o que já valeu uma comemoração. Pegamos a máquina sub, toalhas e protetor solar e partimos para as piscinas. Fomos sacudindo em uma péssima estrada de chão, para alegria minha e do Pezão, e chegamos ao parque. O rio da região, marrom como chocolate, aumentava a descrença de que ali existiam águas cristalinas. Passamos pela bilheteria e optamos por ir primeiro ao mirante, de onde certamente as fotos que víramos tinham sido tiradas, e depois às piscinas em si, pois o calor era imenso e essa ordem era óbvia. A subida foi pesada. Quarenta minutos de muito calor e umidade. No topo, o sol fez sua parte e nos brindou com uma luminosidade perfeita para entender essa beleza da natureza: o rio, muito forte e realmente turvo, torna-se subterrâneo por um curto trajeto. Porém, uma pequeníssima porção de água corre em paralelo por cima das rochas, construindo piscinas calmas e cristalinas. A conjunção de fatores geológicos necessária para que isto ocorra faz apostar que essas piscinas são únicas no mundo... Ou pelo menos extremamente raras. As fotos dizem tudo. 

Descemos às piscinas e aproveitamos as águas de perfeita temperatura. O sol decidiu mostrar a cara por completo. Era um paraíso! Porém... Um paraíso requer alguns princípios básicos: temperatura agradável, natureza exuberante, boa companhia e pouca gente. Não necessariamente nenhuma, mas pelo menos pouca. E essa última parte foi simplesmente alijada do cenário por volta das onze da manhã! Peço antecipadamente desculpas aos socialistas de plantão, e afirmo categoricamente que não sou elitista. Ao contrário, buscamos nessa viagem um contato mais próximo com o “simples”. Mas não consigo narrar o decorrer dos fatos de maneira humorada sem utilizar de termos, digamos, polêmicos. A verdade é que nosso paraíso se transformou em um... “Paraíso de Ramos”! Tal qual o famoso piscinão existente na cidade do Rio, o nosso “Paraíso de Ramos”, em poucos minutos, tornou-se repleto de moradores locais! Foi uma fantástica invasão do pessoal simples da região! Checamos o calendário, algo um pouco raro na nossa rotina, e era domingo-de- sol! Perfeito para um passeio com a família e um mergulho nas piscinas! Eu fui ficar mais perto dos nossos pertences, pois uma gurizada de seus quinze anos tinha colocado suas coisas em cima das nossas. Preconceito zero, e sim experiência. Assim como eu alertaria um turista no Rio, fui diversas vezes alertado para não dar sopa na Guatemala. Nada demais. Nada de menos. Simplesmente mais um país latino-americano. 

A Du se esbaldou com as fotografias! Foi engraçadíssimo! A maioria entrava de roupa e tudo. As fotos ficaram fantásticas! No final, valeu à pena: tiramos boas fotos das piscinas isoladas e depois nos divertimos assistindo o pessoal local. Nota dez para o programa! 

Saímos de Champey em direção à gruta. No meio do caminho, fomos abordados por um guia oferecendo seus serviços. Gentilmente recusamos, pois já estávamos alertados de que não era necessário, e ele, mais gentilmente ainda, nos deu a dica de ir ao final do dia para, ao escurecer, para observar a saída dos morcegos. Excelente! Almoçamos e fomos dar um tempo no hotel. 

Conforme fomos orientados, chegamos à gruta perto das cinco da tarde. Como ela demora cerca de uma hora para ser visitada, seria o tempo exato para vermos a saída dos mamíferos voadores... A gruta é sensacional! O caminho é totalmente iluminado, de forma a facilitar o deslocamento sem guia e permitir a visualização das formações rochosas. Isso sem perder a sensação de estar abaixo da terra. Corrimões e escadas também ajudam nas partes mais difíceis, pois a gruta é extremamente úmida e escorregadia. Ficamos realmente por quase uma hora, entre paredes de pedra e corrimões de ferro. Levamos a G10, o que nos permitiu arriscar algumas fotos, sem muito sucesso. A graça ficou pelo filme. 

Quando já estávamos na saída, passou por nós o responsável pelas luzes. Disse que iria com um último grupo até o final para finalmente, na volta, apagá-las. Segundo ele, somente então os morcegos começariam a sair. Percebemos que tínhamos mais tempo e arriscamos uma corrida no carro para pegar a D300 e o tripé. Aí sim a fotógrafa mostrou suas garras e fez fotos bem legais! Entramos até a segunda galeria e nos entretemos com as fotos até o pessoal voltar.  

Platéia aguardando, luzes apagadas, primeiros morcegos à vista! Tínhamos a nítida percepção dos vultos passando por nós, apesar de não emitirem quase nenhum som. Tudo estava bem escuro. O guia teve que controlar o grupo para não baterem nenhum flash. Mais cinco minutos e ele liberou a “caçada”! As dezenas de flashes que eram batidos na primeira galeria, bem próxima da porta, revelaram um colossal grupo de morcegos voando em círculo! Muito próximo às nossas cabeças, um fluxo intenso e silencioso escoava milhares de morcegos a cada minuto em direção à saída. Inimaginável! Dizem que demora mais de uma hora até que todos finalmente saiam. 

Acabamos mais absortos que o resto do grupo com fotos e filmagens e, ficando por últimos, demos um jeito de sermos “esquecidos” pelo guia. Sozinhos, do lado de fora da gruta, tiramos fotos e filmamos, registrando melhor ainda a impressionante revoada. Inesquecível! Voltamos ao hotel completamente extasiados pelo divertido dia. Dois cenários, totalmente distintos e incríveis, a poucos quilômetros de distância. A Guatemala já tinha valido à pena. 

Saímos pela manhã em direção ao último evento: as ruínas mayas de Tikal, mais ao norte. Foi outro dia extremamente cansativo na estrada. Nosso destino era a cidade de Flores, que fica rodeada pelo lago Petén Itzá. Chegamos ao meio da tarde e decidimos ficar o dia seguinte inteiro por lá, para recobrar as energias antes de conhecer Tikal. A surpresa foi muito agradável. Floresé uma cidade calma e com turismo desenvolvido. Para nós, a atração principal foi o mergulho no lago. Decks de madeira ao longo da via costeira são ponto de encontro de banhistas. O calor era forte e a temperatura da água perfeita. Qualquer passagem pelo hotel, que ficava em frente a um desses decks, era desculpa para um mergulho. 

Partimos na madruga seguinte, às seis da manhã, para Tikal. O céu estava parcialmente encoberto, o que favoreceu muito a caminhada, pois o calor era quase insuportável. Tikal é considerada uma das mais importantes ruínas maya, pois fica encravada em uma densa floresta tropical. Caminhamos por quase quatro horas por entre ruínas de templos e outras estruturas religiosas. Subimos no templo IV, a segunda mais alta construção piramidal do mundo, e no templo V, a primeira mais insegura escada do mundo! Os gaiatos fizeram uma escada em madeira, ao lado da original de pedra. A Du nem se arriscou, e eu confesso que quase me arrependi. Uma coisa impressionante! A escada devia ter uns oitenta e nove graus de inclinação [exageros à parte] e quase quarenta de altura [sem exageros]. Nem em saltos de pára-quedas fiquei tão concentrado! Aliás, segundo o nosso livro-guia, eles tiveram que fechar as escadas originais do Templo I após alguns turistas despencarem para a morte... Inacreditável.  

Subimos por último no Templo II e fomos embora. Valeu muito a visita! Realmente o parque, com suas ruínas, é um lugar especial. De cima dos templos, principalmente do grandioso número IV, pode-se ver o quanto a cidade é rodeada por uma imensa floresta, e como as edificações de Tikal ganham destaque em contraste com o verde das árvores. Eram como navios em um oceano. 

Chegamos de volta a Flores a tempo de dar um mergulho no “nosso” lago e almoçar. O dia seguinte prometia: a rota direcionava para Belize. Não tínhamos visto para a entrada no país e isto nos causava certa apreensão. Acordamos bem cedo e partimos.  

A estrada seguiu tranqüila até a fronteira. Quando chegamos a uma pequena ponte, uma funcionária do município guatemalteco da fronteira veio nos cobrar uma taxa. Já tínhamos terminado propositadamente com os nossos Quetzals, e o pagamento acabou virando uma questão um pouco mais demorada, pois eu sempre evitei fazer câmbio nas fronteiras. Aliás, sempre procuramos fazer o mínimo possível de movimento nas fronteiras, e sair o mais rápido que conseguirmos. Nisso, um bêbado grudou no carro. Aquele velho esquema de ficar tentando ajudar em algo que nem sempre precisávamos pra cobrar um cascalho depois. Não tive muito paciência e demonstrei isso ao bêbado. Saí do carro e comecei a tentar resolver a forma de pagamento do município. Depois de umas duas enxotadas, o manguaça deu uma sumida. Poucos segundos depois, a Du me chamou e falou: “resolve rápido essa celeuma porque o bêbado tá armado!”. “Jura?!”. “Tá sim! Um menino acabou de entregar uma pistola pra ele!”. Era o que faltava... Um bêbado armado. Fiz um câmbio qualquer, com um cambista qualquer, paguei a mulher e fomos embora. Nem olhamos pra trás! 

Antes de sair da Guatemala oficialmente, fomos à imigração em Belize para ter certeza que não nos negariam o visto. Se nos negassem, voltaríamos à Guatemala para ir direto ao México, e o pior dos mundos seria fazer a saída formal da Guatemala e ter que retornar em seguida. Porém, o funcionário em Belize deixou claro que o visto não era problema, e que podíamos sair da Guatemala e cruzar a fronteira sem demoras. Processos burocráticos resolvidos, vistos comprados, entramos em mais um país! 

A Guatemala foi ponto alto na viagem. Muita variedade e tranqüilidade. Estávamos muito ansiosos por Belize. Finalmente iríamos para um lugar famoso por seus mergulhos autônomos. Ainda não tínhamos feito nenhum e queríamos tirar fotos submarinas em maiores profundidades. Já tínhamos um destino: Caye Caulker, e mal podíamos esperar para encontrá-lo!