África

Tanzânia

Aproveitando os últimos safáris nos parques da Tanzânia

A entrada na Tanzânia foi uma tranquilidade só. Como optamos por entrar pelo lado oeste do Quênia, acabamos por passar por uma fronteira vazia, sem muitos pretendentes a “assistentes alfandegários” e clima ameno. O início da estrada igualmente não trouxe grandes surpresas, à exceção de certo clima de festa. Passamos por um ou dois grupos cantarolantes o suficiente para fazer você olhar no calendário para checar se era domingo. Não era. Parecia, ao menos, feriado. Ao longe avistamos um grupo grande correndo e pulando na estrada como se fosse um pequeno bloco de carnaval. A Du preparou a máquina e eu reduzi a marcha. Passei quase parando e ouvi os primeiros cliques da Du. Porém, entre uma e outra foto, vi a cara de um malandro, magro e alto, com os olhos abertos e salientes, pregados na Du. Ele apontou para ela e eu vi que segurava algo como um cabo de vassoura. Acelerei rapidamente e “pou!”, uma pancada ecoou por todo o interior do carro. Nessa hora a Du me mostrou o que são olhos esbulhados de verdade. Perto dos dela, os olhos do malandro pareciam de japonês. Felizmente foi só uma pancada com madeira no Pezão que, novamente, não fez nem cócegas.  

Continuamos nossa trajetória pelas estradas da Tanzânia. Queríamos acampar na entrada oeste do Serengeti, na cidade de Lamadi, para entrar cedo pela manhã no parque. Antes de Lamadi, passamos interessadíssimos pela cidade de Bunda. Depois de visitar Boquete, no Panamá, e de Kulito, na Etiópia, não podíamos deixar de prestigiar de forma devida a verdadeira paixão dos brasileiros. Bunda era como de se esperar: cheia nos lados opostos e com uma estrada reta no meio.  

Estava tudo bem enlameado, em função das chuvas, então seguimos passeando por Bunda suja dando risadas das placas e prestando atenção no pavimento, pois não queríamos cair em nenhum buraco no final! Poucos minutos depois, chegamos finalmente ao nosso camping em Lamadi.  

Dormimos tranquilamente e madrugamos na entrada do parque no dia seguinte. Estávamos tomados por uma alegria de criança. Entramos no parque, um pouco constrangidos pelos exorbitantes preços cobrados, e fomos em frente. Íamos em direção a Seronera, um pequeno vilarejo cravado no interior do parque. Tínhamos pela frente 150 quilômetros na direção leste até Seronera, o que já mostrava a grandiosidade do parque. Com mata meio fechada dos dois lados da estrada, não nos empenhávamos muito em procurar por animais, porém, com seu ímpeto de caçadora de imagens, a Du viu um leopardo em cima de uma árvore bem ao lado! Parei mais à frente e vi o bichano nos olhando. Dei então uma ré totalmente despreocupada com o Pezão. Nossas experiências com leões nos mostraram que os felinos não fogem com nossa presença, certo? Errado! Assim que parei o Pezão na frente da árvore, o leopardo fez uma cara de gato assustado e desceu da árvore em um pulo. “Peraí, rapá! Depois de tantas tentativas de te conhecer é assim que você nos trata?!”. Só deu tempo de a Du tirar uma foto meia-boca do peludo no chão, já meio escondido pelo mato. Bom... Tecnicamente falando já tínhamos visto quatro dos Big Five e estávamos a um rinoceronte de carimbar nosso certificado de “Eu estive na África!”.  

Seguimos contentes e em ritmo lento, olhando o entorno. A vegetação voltou a ser mais caracterizada por um mato rasteiro e meio seco, o que facilitava nossas buscas. Nesse meio tempo, a Du perguntou: “Será que era um leopardo mesmo?...”. Respondi de pronto: “Claro que era! Já viu leão subir em árvore?”. Ficamos rindo, com a Du com aquela cara “tá bom então...”.  Pra quê? Meia hora depois vimos uma das cenas mais fantásticas da viagem. Decidimos sair da estrada principal e seguir por secundárias. Fomos sem muita sorte e estávamos no caminho de volta. Poucos metros antes, porém, visualizamos uma pequena árvore que, ao longe, mostrava conter algo estranho. Decididamente havia seres peludos em cima dela. Aceleramos o passo e começamos a identificar... Eram amarelos demais para serem leopardos. Quando finalmente conseguimos ver... “Não é possível! A árvore está com leões em cima dela!”, gritamos.  

Em nenhum momento podíamos esperar por algo tão pitoresco – a Natureza tinha superado por completo nossa imaginação. Uma família inteira de leões descansava nessa área e, de forma totalmente inusitada para nós, sete membros da família, entre leoas e filhotes, estavam se divertindo em cima de uma árvore! Era uma árvore pequena, ou um arbusto grande, que seja, mas não esmoreceu com os visitantes. Os leões, ao contrário, se mostravam inteiramente estabanados e desconfortáveis. Por quê estavam lá, então? Farra! Só poderia ser bagunça.  

Ficamos um bom tempo vendo aquela cena. Fotografamos e filmamos sem parar, morrendo de rir dos filhotes e suas caras para nós. Estávamos com fome, então simplesmente estacionamos na trilha ao lado e fizemos a comida. O tempo passou depressa na companhia dos felinos.  

Pouco depois começou a chover. Foi engraçadíssimo ver os filhotes descendo desajeitadamente da árvore. As barrigas arrastando no chão explicavam que o entusiasmo da farra vinha exatamente depois de uma boa refeição. Despedimo-nos da “plantação de leões” e seguimos em frente. Tínhamos a sensação de que o dia já tinha valido à pena.  

Seguimos em meio a uma forte chuva, que seria nossa companheira durante boa parte da visita ao Serengeti. Vimos mais algumas leoas, dessa vez no chão e aparentemente caçando. Porém, a mata fechada e o desapontamento em ver, obviamente, que elas não estavam nos caçando, nos fez desistir rápido da tentativa de ver alguma movimentação. Chovia tanto que o caminho ganhou uma graça inusitada: poças enormes de lama eram um desafio cada vez maior para o Pezão. A Du me perguntava: “Como fazemos se o carro atolar?”. Eu respondia: “Ah... Se atolar?! Não faço a menor idéia!” enquanto encarava a próxima poça com o Pezão patinando nas quatro rodas. Passamos por tudo sem problemas, e ficamos sabendo que um carro cheio de turistas, obviamente uma Toyota Land Cruiser!, tinha ficado atolado e aguardando ajuda por duas horas.  

Fomos embora procurar nosso camping. Camping era uma palavra totalmente inadequada para o local. O que fizemos, na verdade, foi um camping selvagem pago. O lance então era curtir a proximidade da natureza. Perguntamos pro malandro que tinha cara de capataz onde poderíamos estacionar nossa casa. Ele mandou um “qualquer lugar!”. Ótimo! Paramos o Pezão junto às demais barracas de chão, em um gramado super legal. Porém, não demorou muito para aparecer outro malandro, com mais cara de capataz ainda e mandar a gente sair e ir para o estacionamento. Ele alegou que ali estaríamos fazendo “off-road”! “Cacetada... Neguinho não se entende!”. Como estávamos com a barraca pronta, fizemos como de outras vezes: eu dirigi o Pezão bem devagar e a Du foi caminhando ao lado levantando a escada. O problema era que já estava de noite. Seguíamos como se fôssemos um carro alegórico e a Du começou a gritar lá trás um monte de palavrões: “PQP! Tô me borrando aqui! Anda logo!”. Eu, dentro do Pezão, não compartilhava da tensão dela. Só quando chegamos no estacionamento ela desabafou sobre o medo que sentira: “Tava muito escuro! Não via nada a não ser meu pé! Estava totalmente encagaçada de um leão me atacar!”. Realmente foi algo interessante. O “camping” não tem nenhuma cerca ou algo do tipo. À noite, a emoção fica por conta dos sons das hienas, uma mistura de cuíca com pombo gigante, e dos urros dos leões. Esses últimos, sim, deixam você meio tenso.  

Na madrugada dormi um pouco alerta, na expectativa de ver algum animal nas redondezas. A barraca de teto dá a confiança necessária para você até torcer que leões apareçam por perto. “Com tanta gente dormindo no chão, não é possível que eles nos queiram primeiro!”. Eu ria. A Du, nem tanto. Eu falava que ali não tinha risco, porque senão seria de conhecimento geral. Será?  

Acordei com um barulho de alguém pastando ao lado do Pezão. “Se não for um dos dois capatazes, deve ser algum búfalo ou zebra”, pensei. Abri a barraca, um pouco tenso, confesso, e vi a sombra de um imenso búfalo pastando ao lado da roda do Pezão. Iluminei-o com a lanterna e vi o pouco caso que ele fez de mim e das minhas palavras amigas – não mudou em nada o ritmo das mastigadas. Retruquei com o mesmo desdém e voltei a dormir.  

Levantamos cedo no dia seguinte (não tão cedo quanto os carros de tours – os caras saem às cinco da matina) e partimos em busca de mais animais. Vimos de tudo, menos os rinocerontes e leopardos. Novamente a lama trouxe uma emoção à parte. Porém, o ponto alto foi, sem dúvida, ao final da tarde. Uma leoa e seus três filhotes se divertiam calmamente ao lado da estrada. Foi inesquecível. Ficamos por mais de meia hora observando e registrando a relaxada família. Não há nada melhor do que não ter medo de ninguém. Os filhotes aventuravam-se bem perto do Pezão e ficavam nos olhando intrigados. Provavelmente estavam pensando que aquele bicho reluzente devia ser o tal rinoceronte branco de que ouviram falar, mas, como nós, nunca tinham visto.

Vimos impressionantes manadas de gnus. Incontáveis, na verdade, e fomos de volta ao acampamento. Passamos em um camping ao lado, para ver se as condições eram um pouco menos precárias, mas ele era tão bom quanto o nosso. Encontramos uns recém-chegados americanos, que nos perguntaram sobre a viagem e sobre o que já tínhamos visto no parque. Falamos um pouco e brincamos com o fato de o camping não ter cerca. Foi quando ele mandou um “Não sabem do ocorrido no Zimbábue?”. Pela minha cara olhando para a Du ele fez uma expressão de “Ih... Falei besteira?”, mas eu disse que ele podia continuar. “Dois meses atrás um turista foi atacado no banheiro por cinco leões!”. Pronto! A Du fez uma cara de “eu te disse!” e eu nunca mais pude argumentar que não havia risco. Depois desse dia, hora de banheiro era hora tensa.  

Paramos diretamente no estacionamento, para não correr riscos, e fomos dormir. Pela manhã, uma girafa se alimentava a poucos metros do Pezão. Valeu até a corrida para tirar uma rápida foto. Saímos com destino ao parque vizinho, Ngorongoro, e à famosa cratera, teoricamente cheia de animais. Tínhamos reservado a manhã para uma última busca por animais, mas nosso ímpeto diminuíra muito e o cansaço começava a bater.  

Fomos mais relaxados em direção à saída, curtindo a música e os animais que, porventura, resolvessem se exibir para nós. Saímos do Serengeti e entramos no Ngorongoro, pagando uma nova baba. Cruzamos até a proximidade da cratera sem muitos acontecimentos, a não ser o fato de que o antigo povo local habita o parque e pedem à beira da estrada.  

Chegamos ao nosso novo “camping”. Era tão desarrumado quanto o anterior, só que muito mais bonito. O gramado, a vista e uma imensa árvore faziam o ambiente ser extremamente agradável. Na entrada começou certo contratempo.  

O porteiro, capataz, encarregado ou sei-lá-o-quê nos abordou com um imenso e sincero “sejam bem-vindos!” e uma pergunta:  

- Já agendaram o guia de vocês?  

- Como assim? Não estamos sabendo de guia nenhum.  

- Ah, tem que ter um guia se vocês querem ir à cratera no carro de vocês.  

- Fala sério! Ninguém nos avisou nada na entrada!  

Aí, nos enfezamos quando ele nos mostrou que estava no recibo da entrada do parque. “Tinham que ter avisado a gente! Agora já pagamos e não podemos entrar, porque não cabe ninguém no carro!”, esbravejamos.  

Depois de irmos ao escritório de atendimento ao turista e nos enfezarmos um pouco por lá também, conseguimos uma autorização para entrar sem guia. Dormimos mais tranqüilos e acordamos novamente bem cedo. Dessa vez, na mesma hora dos demais, porque não queríamos perder nada da cratera. O ar fresco da manhã e a luz que incidia sobre a bela árvore não deixavam dúvidas de quão privilegiado era aquele lugar.  

Iniciamos a descida na cratera mais impressionados pelo visual do que qualquer perspectiva de ver animais. Era um dos cenários mais bonitos que tínhamos visto até agora. Mas os animais estavam lá. 

Logo nos primeiros metros à base da cratera, encontramos duas chitas visivelmente caçando. Porém, ao contrário dos demais parques, a cratera tem muito poucas trilhas e a permanência nelas é bem rigorosa. Então foi fácil para as chitas se afastarem da meia dúzia de carros que as cercavam e irem embora.  

Rodamos até umas dez da manhã, quando minha energia simplesmente acabou. Não agüentava mais dirigir e procurar os animais. Os dias passaram rápido nos parques e, sem perceber, eu acabava dirigindo por mais de oito horas por dia. A batalha da Du não era menos desgastante, com a máquina nas mãos e os olhos constantemente atentos, e ela também já mostrava sinais de cansaço.  

Certo momento vimos um carro parado e, como sempre, fomos lá fuxicar para ver o que era. Vimos algo muito ao longe, tipo duzentos metros de distância, e, com um binóculos, vi que parecia ser um hipopótamo de pele ressecada... Ou um elefante sem tromba... Ou... Um rinoceronte! Finalmente! O rinoceronte fantasma existia! Ou será que não era?... A Du deu todo o zoom da máquina e o que se via era somente um teórico bicho, teoricamente grande e aparentemente cinzento. Ficamos à espera, por alguns minutos, e nada do bicho se mexer. “Bora filho! Sai desse marasmo!”, ríamos. Depois de quase meia hora, desistimos. Saímos junto dos outros quatro carros que curtiam o movimentado espetáculo e continuamos rodando. Depois me arrependi totalmente de não ter parado para perguntar a algum guia o que era aquilo. Podíamos ter visto um rinoceronte e não sabíamos! Que mole! A experiência seria muito mais transcendental se soubéssemos se era um rinoceronte.  

Demos mais umas voltas, sem muitas alegrias. Rolou certo desapontamento. Primeiro, a estafa. Segundo, esperávamos mais em relação aos animais. E não era por falta de habilidade em achar, pois conseguimos ver e nos aproximar de vários carros com guias, mas esperávamos mais quantidade em função da propaganda do lugar.   

Numa dessas abordagens aos guias, vimos dois conversando e trocando informações. Na maior cara-de-pau, esperamos para seguir o guia que recebia a dica. Quando ele saiu e nos pusemos atrás, passamos pelo guia que estava a dar as coordenadas e ele abriu um sorriso de satisfação e falou com sua voz de porão: “Follow that guy...”. Achamos muito engraçado, pois ele parecia que estava falando sobre o pote de ouro no final do arco-íris. Seguimos o outro e eu brinquei com a Du: “Do jeito que o cara falou, só pode ser um rinoceronte plantando bananeira na beira da estrada e gritando ‘Pen! Pen! Pen!’”. Gargalhamos solto.  

Quando paramos era... Um leão. No mesmo marasmo de sempre, e ainda um pouco longe. Ele estava fazendo o que sempre fazia... Nada! Olhamos por meio segundo e fomos embora. Estava claro que, para nós, os dias de safári tinham terminado.  

Fiz questão somente de dar uma última passada no suposto rinoceronte para confirmar ser era realmente o bicho. Parei ao lado de um dos inúmeros carros que observavam a criatura à distância e perguntei ao guia:  

- É um rinoceronte, não é?  

- Sim! Claro!  

- Ah... Não tinha reconhecido. E... É branco ou preto?  

- Claro que é preto! Aqui na cratera não temos o branco!  

- Puxa... Foi mal. Não sabia desse detalhe importante.  

Olhei pra Du e depois pro relógio. Era meio dia. Teoricamente teríamos toda a tarde pela frente. Perguntei pra Du se ela ficaria muito chateada se fossemos embora, porque eu realmente estava cansado. Abortamos então a tarde na cratera e outra noite no acampamento e fomos direto paraArusha. Tinha chegado nosso limite.  

Antes da saída, paramos em uma área de acampamento para preparar um macarrão instantâneo que seria nosso almoço. Quando estávamos fora do carro, ainda batendo papo com outros turistas, vimos um pequeno macaco “empoleirado” nos Pezão. Ele olhava de um lado e de outro, deixando claras suas intenções furtivas. Nossa chegada junto ao carro o espantou na hora. Continuamos a pegar as coisas com o pequeno primata a nos observar na segurança de uma árvore, bem ao nosso lado. Ele nos olhava sem se mover muito, tentando parecer quase entediado. Peguei a leiteira e fui buscar água. Mal me afastei cinco metros do carro e um turista gritou: “Cuidado com a porta aberta!”. Não deu tempo... Olhei para trás somente a tempo de ver o pequeno ladrão subir de volta à árvore agarrado no nosso pão de forma! O mais impressionante foi perceber que a sua postura entediada antes foi na verdade uma ardilosa tática para esquecermo-nos dele enquanto analisava detalhadamente o conteúdo do Pezão para que o bote fosse rápido e certeiro. Bastante familiar para quem mora no Rio de Janeiro.  

Arusha nos surpreendeu com certa civilização. Paramos em um bom hotel, merecíamos!, e capotamos. No dia seguinte só saí para lavar o Pezão, que estava em estado lastimável, e voltei para o hotel. As imagens dos parques ainda estavam em nossas mentes.  

Subestimamos a energia que estávamos gastando nos safáris diários, o que fez com que o final ficasse meio torturante, mas a sensação de que havia acabado os dias de trilhas e animais era triste. Certamente esses dias vão deixar muitas saudades.  

Após a pausa para descanso voltamos a seguir na direção sul. Desistimos de um de nossos destinos programados, Zanzibar. As fotos que vimos das praias eram de dar água na boca, mas o clima, demasiadamente turístico, não nos atraía. Principalmente em época de final de ano.  

Seguimos assim em direção ao próximo país: Malaui. Fizemos a opção errada de estrada: ao invés de rumar leste para a capital da Tanzânia, Dar es Salaam, rumamos diretamente sul. O problema era que a estrada tristemente lembrava, e muito, nossos dias entre Moyale e Marsabit, no Quênia. De volta à britadeira!  

No meio do caminho, paramos em Kondoa. Ficamos em um hotel muito simples, se é que poderia chamar-se “hotel”. Porém, como quase sempre acontece, a simplicidade do lugar foi proporcional à simpatia. Demos uma olhada no quarto e não nos espantamos. Cheguei à conclusão de que dava para ficar ali ao mesmo tempo em que igualmente concluí que realmente estávamos “cascorados”, e que desconforto não era mais problema para nós. 

Não tinha água quente no banheiro. Falei, sorrindo, que pagaria somente a metade do preço acordado, menos de sete dólares!, se não tivesse água quente. Seguimos preparando o jantar (o cardápio de sempre, macarrão instantâneo!), alheios à uma fogueira que começara no lado de fora. Meia hora depois, bate na porta a senhora do hotel com três baldes, de vintes litros cada, com água aquecida! Agradecemos e tomamos “aquele” banho. Na hora de pagar, vi sua expressão apreensiva sumir quando entreguei o valor integral, algo que faria mesmo sem os baldes, mas que ela não sabia ainda. Aos seus olhos, e os nossos, seu trabalho tinha valido à pena.  

Após três dias dirigindo, com pernoites nas cidades de Morogoro, Iringa e Mbeya, chegamos sem problemas à fronteira entre Tanzânia e Malaui. Tínhamos ouvido maravilhas sobre o Malaui e seu lago, e mal podíamos esperar para conhecer ambos. Era hora de ficarmos de pernas para o ar!